Friday, October 12, 2007

Ramadam, hipocrisia e integração

Burmese Refugees

Pois é, amanhã termina o Ramadam. Por um mês inteiro a cidade andou em um ritmo completamente diferente do resto do ano. Durante 30 dias quase não exisitram engarrafamentos, os shopping malls (aqui é malls e nao centers) ficaram vazios durante a maior parte do dia e as filas em restaurantes e cinemas desapareceram.

Kuala Lumpur estava bem do jeito que me disseram que ficaria. O lado chato foi que o café semanal com meus amigos fotógrafos teve que ser adiado pois são todos muçulmanos e como todo bom seguidor do Islã eles não colocaram nada na barriga entre o rair e o pôr do sol. Pelo menos não na minha frente.

Uma curiosidade sobre essa fato: uma amiga minha dia desses estava morrendo de sede(aqui na Malásia é verão 12 meses por ano) e recusou beber a agua que eu ofereci. Não por cerimônia mas porque não queria ser vista em público quebrando o costume. Solução do problema: foi pra casa. Lá ela tinha a certeza de que poderia matar a sede sem receber olhares atravessados.

Só para se entender melhor, o Ramadan é levado a sério por 100% dos muçulmanos "round the world" e na Malásia é igual. Uma comparação boa para nós católicos é a sexta-feira santa não comemos carne por um dia inteiro. Imagine não comer nem beber 12 horas ao dia por um mês. Quebrar isso aqui seria algo infinitamente maior do que desrespeito.

A Luciana perguntou a um taxista semana passada se ele estava jejuando como todos os outros malays. Ele disse sem vergonha nenhuma que estava comendo normalmente antes de sair para a corrida diaria e nas horas de folga. Taxistas são uma "peça", falam muito e são um espelho da sociedade local.

Aparentemente todos seguem a risca as tradições mas alguns podem optar: em vez de deixar o estômago roncando por um dia inteiro pode-se doar dinheiro ao pobres. Não sei a quantia mas de acordo com nosso amigo taxista esse é um privilégio ao alcance somente dos mais abastados.

Em outras palavras, se vc tem fome e nao quer penar, doe; se vc tem fome e não pode doar, jejue pois Alá irá fechar as portas do paraíso se vc não resistir. Hipocrisia existe em todos os lugares, é global. Disso não há dúvida. Só que cada lugar tem a sua a seu modo.

KL Scenes

Outra grande questão aqui na Malásia é a tão falada unidade racial. O país é formado por três grandes grupos étnicos: os nativos malays (muçulmanos), chineses e indianos. O primeiro grupo tem o domínio político; o segundo o financeiro e o terceiro... bom o terceiro pega a sobra.

Desde e o tempo em que o país era colônia britânica os chineses, bons comerciantes que são, controlam a economia local. Aos malays os ingleses passaram o poder político para manter o equilíbrio de forças. Os indianos entraram no país literalmente para trabalhar pesado em plantações, fábricas e na construção civil. Esse "sistema de castas" existe há mais de um século e pouco mudou.

Nos restaurantes badalados os clientes são sempre na maioria chineses, e alguns malays. Servindo as mesas, indianos e malays. Limpando as ruas, indianos. Os altos cargos do serviço público são ocupados por uma maioria maciça de malays e a eles são reservados os melhores lugares nas universidades. Casamento entre eles e outra raça só com conversão ao islamismo. Isso é obrigatório ou o casamento não será validado perante a lei.

Quando surge a necessidade de se construir uma nova mesquita o governo doa o terreno e até o material de construção quando necessário. Chineses e indianos precisam buscar na comunidade a verba para construirem seus templos. Integração entre esses grupos? Muito pouca.

Mas de acordo com as campanhas em TV e jornal ela é total. No entanto basta andar na rua e conversar com as pessoas que vc percebe a realidade: um grupo sempre responsabiliza o outro pelo problemas do dia-a-dia. O racismo é grande e está fortemente presente na sociedade malaia só que muita pouca gente fala no assunto.

A mídia é controlada indiretamente pelo governo e as fotos de primeira capa nos jornais são quase sempre alguma boa-ação do dia anterior feita pelo PM deles aqui, que é sempre malay. Criticas ao governo não existem. Resumindo, os jornais todos são um lixo, não vale a leitura. Chega a ser hilário!

Mais engraçado é a censura sobre a imprensa estrangeira. Revistas como TIME, Newsweek ou até mesmo National Geographic tem as fotos marcadas com pincel atômico preto caso mostrem cigarro, sensualidade feminina ou, de acordo com os censores, alguma má referência ao Islam. Beijo então nem se fala, nos cinemas esse tipo de cena "picante" é cortada.

Até o sistema político foi construido de forma que governo vai ser sempre governo e oposição sempre oposição. O primeiro-ministro é por lei malay, o que garante ao a esse grupo o controle e evita problemas como os causados em 1969. Em 13 de maio daquele ano partidos chineses ganharam as eleições, gerando descontentamento dos malays e violência nas ruas do país.

O assunto ainda é tabu até hoje. Quase 30 anos depois, poucas pessoas se arriscam a falar sobre isso em públco. Com a proximidade das eleiçoes parlamentares em 2008 provavelmente haverão protestos por parte das minorias desfavorecidas. E de acordo com um amigo indiano o pau vai quebrar mesmo. Pena que não estarei mais aqui para fotografar.

KL Scenes

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