Wednesday, January 24, 2007

Casório

Num dos primeiros posts comentei que era difícil ver os três grupos étnicos aqui da Malásia interagindo. Hoje, depois de quase três meses, já percebi que me enganei pois existe sim um entrosamento mas isso não ocorre abertamente como na Tailândia, por exemplo.

Lá, pelo pouco que vi, não existem essa divisões que você vê bastante por aqui, do tipo "eu sou malaio, você é chinês e eles são indianos". Você percebe que a população é formada por diferentes grupos étnicos mas ninguém se rotula. Alguns possuem claramente origem chinesa e outros mais escuros lembram algo que poderia ser um misto de indianos com chineses mas no final do dia são todos tailandeses e fim de papo.

Aqui isso é discreto, mas já foi pior. Houve época até não muito tempo atrás em que essa relação era conturbada, o que pode parecer estranho pois grande parte dos considerados malaios tem origem chinesa. Os primeiros imigrantes que chegaram aqui séculos atrás casaram-se com as nativas da região. O mesmo foi feito, numa menor escala, pelos indianos e essa prática seguiu sendo repetida por milhares de outros depois deles. Igual a parte do processo de colonização de qualquer país do mundo.

A razão dessa diferença foi consequência de uma quebra-quebra que aconteceu há mais de 35 anos, em 13 de maio de 1969. Nesse dia o clima fechou entre chineses e malaios e os dois grupos foram os protagonistas de uma série de violentos conflitos que tomaram as ruas de Kuala Lumpur. Naquele ano as eleiçõs majoritárias foram vencidas pelo Action Democrat Party (Partido de Ação Democrata), de maioria chinesa e forte tendência comunista. A vitória irritou profundamente os malaios que já se sentiam desfavorecidos em relação ao poder econômico dos chineses que desde aquele tempo já era forte.

A violência se iniciou depois de uma marcha de celebração pela vitória que cruzou bairros de maioria malaia. Rapidamente a pancadaria se espalhou pela cidade, chegando inclusive a vários outros pontos de país. Ao final as autoridades contabilizaram pouco menos de 200 mortos mas qualquer um dos moradores mais antigos de KL vai lhe dizer com segurança que o número de vítimas foi infinitamente maior.

Hoje tudo já é passado e não existe a menor chance de se repetir o que aconteceu. Mas a verdade é que o incidente marcou profundamente a história do país e é lembrado toda vez que surgem diferenças raciais. O interessante disso tudo é que mesmo antes de saber a verdadeira história dos fatos você desembarca aqui e percebe no ar que existe algo.

Volta e meia nos jornais leio entrevistas de membros do governo preocupados com a integracão das comunidades, pedindo que a população se esforce para permanecer unida e assim evitar a repetição dos distúrbios.


Os jornais, na minha opnião, também evidenciam um pouco essa diferença entre os grupos. Eles são editados em Mandarim para os chineses, Bahasa Malay para os malaios e Hindi ou Tamil paara indianos. Cada um deles é voltado quase que exclusivamente para sua comunidade. Os considerados neutros, eu diria, seriam os escritos em Inglês. O Bahasa-Malay é a língua oficial do país e teoricamente deveria ser falado por todos mas é muito comum ver chineses conversando em inglês com malaios ou indianos.

Com os programas de televisão também acontece a mesma coisa. As novelas exibidas por aqui não mostram nem chineses nem indianos, somente malaios. Chineses assitem canais a cabo de Hong Kong, Taiwan ou da China e Indianos a canais do sul da India e filmes de Bollywood. Desde que cheguei não vi nenhum programa local mostrando os três grupos intereagindo. Os noticiários são a única exceção nesse caso, com programas exibidos em Inglês sobre fatos locais. A dúvida é se eles são feitos para a integração local ou foram criados para a grande e sempre crescente comunidade de estrangeiros que vive por aqui.

Existem escolas para cada comunidade mas isso não obriga necessariamente um indiano a não frequentar uma escola chinesa, por exemplo. Esta se tornando comum ver crianças malaias ou indianas estudando em escolas chinesas e vice-versa. A decisão cabe a família mas é o tipo de coisa que alguns políticos daqui querem que ocorra com mais frequência. Assim imagens como a aí abaixo poderão continuar a ser vistas regularmente por aqui.

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Jeanne, uma malasiana de origem chinesa, e Amir, um malaio muçulmano, se conheceram há sete anos e nesse sábado vão se casar numa cerimônia que irá durar o dia inteiro e será dividida em duas etapas: a primeira iniciará pela manha e será de acordo com a tradição malaia, à noite será a vez da chinesa. Nós, é óbvio, não vamos perder a boca.

obs: a tradução de "malay" é malaio e se referere ao grupo étnico. Malaysian é a nacionalidade e ainda não descobri se a tradução em português seria malásio ou malasiano. Se alguém souber por favor me deixe um recado.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

sua cara comer de graça.
bjo

12:10 PM  
Anonymous Anonymous said...

Edu, estamos acompanhando teu blog aqui de Campo Grande. Está muito bom, as fotos então nem se fala.
abraços
Jussara e Paulo

11:30 AM  

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