Paradise on Earth

Rai Leh Beach, southern Thailand.

Um dos lugares mais bonitos que estive até hoje. Você tem a nítida impressão de estar nadando dentro de um cartão-postal.

Lu's snap shots

Luciana in three different moments during our trip throughout Southeast Asia

Cruzando Bangladesh

Desembarcmos em Bangladesh quase as duas da manhã e o clima no aeroporto era um pouco tenso. Poucas horas antes em Londres a ex-Primeira Ministra, Sheikh Hasina, havia sido proibida de embarcar em um vôo da British Airways para Dhaka e as autoridades estavam com medo de que novos conflitos de rua como os ocorridos meses antes voltassem a acontecer . Do lado de fora centenas de pessoas se amassavam contra as grades que cercam o aeroporto mas logo encontramos nosso motorista, segurando o cartaz com nossos nomes.





Estavamos em Bangladesh à convite de três ONGs comprometidas com a melhoria no tratamento de saúde e redução da violência contra a mulher. Durante as duas semanas seguintes visitaríamos algumas das atividades dessas organizações na periferia de Dhaka e no interior. A Lú iria participar das reuniões e eu iria fotografar os encontros, algumas atividades e também aproveitar a chance para registrar cenas do dia-a-dia do país.





Contrariando aquele velho estereótipo de país pobre e faminto uma das primeiras coisas que você percebe quando viaja pelo interior de Bangladesh é a abudância de água e arroz. Durante as dez horas de viagem até Dinajpur, ao norte perto da fronteira com Índia, arrozais são presença constante nos dois lados da estrada. A irrigação é feita através de bombas que puxam a água de lençóis dágua que podem ser encontrados em praticamente 90% do território do país.

Também chama a atenção a ausência de indústrias. Com exceção de tijolos, arroz e alguns outros alimentos a maioria dos produtos, desde carros até enlatados, são importados da Índia e de outros países asiáticos. Durante viagem toda única fábrica que enxerguei foi uma de cimento.





Educação é outro problema grave. O índice de analfabetismo entre a população ultrapassa os 40% mas se considerarmos somente as mulheres essa estatística irá dobrar. A pobreza leva as famílias a optar por educarem somente os homens e deixar as mulheres em segundo plano pois elas não tem papel de liderança dentro da sociedade.





Bangladesh se tornou independente do Paquistão em 1971, depois de uma guerra que custou a vida de 3 milhões de pessoas e que alguns atribuem ser a causa da atual situação econômica do país. Verdade ou não o que se percebe conversando com a maioria das pessoas na rua é que esse é um dos maiores orgulhos nacionais.

Qualquer Bangladeshi, adulto ou adolescente, vai ficar mais do que feliz em passar horas a fio lhe contando inúmeras histórias sobre o conflito. Sempre com um brilho nos olhos e usando a 3ª pessoa do plural: nós lutamos, nós vencemos e por aí vai.





Caminhar por Old Dhaka, a parte antiga da capital, é uma experiência extraordinária. Em alguns momentos você tem a sensação de estar viajando no tempo, 300 anos ou mais. Em todo o lugar que passei fui cercado por um grupo de pessoas curiosas para saber de onde eu vinha. Ao ouvirem “Brasil” o sorriso no rosto de cada um deles é automático e as primeiras palavras são sempre “Ronaldinho, the best, the best”.





O número de mendigos nas ruas é grande. Bangladesh é uma das nações mais pobres do mundo e a população de 140 milhões de pessoas dá ao país (um pouco menor do que o Rio Grande do Sul) umas das maiores densidades demográficas do planeta. Em Dhaka vivem 12 milhões, metade desses com menos de U$ 1 ao dia.





Apesar da pobreza que salta aos olhos a ausência de infra-estrutura em alguns locais ajuda a revelar uma cidade com uma forte identidade, diferente de outras metrópoles asiaáticas que se ocidentalizaram demais e transformaram em clones umas das outras.

Depois de alguns dias o seu olhar se acostuma e a dificuldades ficam em segundo plano. Você passa a enxergar um lugar exótico, completamente diferente de qualquer outro que visitou, cheio de pessoas extramente amigáveis, maravilhadas por terem a chance de conversar por alguns minutos com um estrangeiro.





No final da viagem, já no aeroporto, lembrei de uma frase do cantor irlandês Bob Geldof durante uma entrevista para a rede de TV Al-Jazera dias antes: “a pobreza é política”. Fico imaginando como seria a vida em Bangladesh se ao invés de água o subsolo do país fosse rico em petróleo.



Mas nem adianta pensar muito pois se assim fosse com certeza alguém mais cedo ou mais tarde iria dizer que eles estariam escondendo armas de destruição em massa e o resto da história todo mundo sabe.